O segredo para aprovar reformas

O segredo para aprovar reformas

A discussão da reforma da Previdência é um dos assuntos que será acompanhado de perto nas próximas semanas por todos os profissionais que tomam decisões relevantes em suas empresas – como investir, contratar e crescer. Isso porque o rumo dessa reforma vai sinalizar se o novo governo terá ou não força para fazer as mudanças estruturais que boa parte do mercado considera necessárias. E não é só a Previdência que determinará o rumo do Brasil – ainda este ano o governo iniciará as outras reformas estruturais, alterações na legislação penal e dezenas de privatizações.

Tudo isso dependerá da decisão dos nossos parlamentares no Congresso. Nesse sentido, o governo recém-eleito terá um desafio inédito, já que pela primeira vez desde que voltamos a ser uma democracia, os Ministérios foram definidos sem loteamento.

A vantagem dessa decisão é evidente: evita tornar o governo refém de interesses que serão cobrados com juros no longo prazo - esse hábito tão arraigado que leva os eleitos a tomar decisões que agradam seus apoiadores em vez de atender aos interesses da população que os colocou ali. No entanto, a desvantagem dessa tática é clara: aprovar pautas do governo torna-se mais complexo. Não adianta mandar um projeto ao Congresso e exigir o apoio dos parlamentares como a retribuição de algo oferecido anteriormente.

Diante desse cenário, a alternativa será recorrer a um agente que os políticos se acostumaram a ignorar: apoio popular. O povo, quando pressiona, tem força. Muito mais do que favores. Deputados e senadores sentem-se bastante desconfortáveis quando são questionados por seus eleitores, já que são eles que poderão reconduzi-los ao cargo nas próximas eleições (ou não). Acredito que o caminho para levar a reforma da Previdência e todos os grandes projetos adiante será colocar os cidadãos comuns ativamente a favor desse projeto.

É um desafio considerável. Primeiro porque acontece logo nos minutos iniciais do novo governo, enquanto ele busca desenvolver “ritmo de jogo”. Segundo porque a prática de buscar apoio junto à população fora de períodos eleitorais não faz parte da experiência do Poder Executivo. E terceiro porque a oposição tem experiência comprovada em criar narrativas populistas e corporativistas. No caso da previdência, por exemplo, alardeando que “não há déficit da previdência”, ou que a ideia de que mexer na Previdência é um “ataque aos direitos dos brasileiros, que afeta os mais pobres”– argumentos com lógica simplista e inversa, que ignoram o fato de que o atual privilégio de minorias torna, isso sim, incerto o presente e o futuro dos mais pobres, a maioria. Uma falácia que se não for tratada rapidamente, predominará.  

Tudo isso vale também para as outras reformas e para o ciclo de privatizações que virá nos resgatar da ineficiência do Estado. Então o que fazer?

Como trazer a parte influenciadora da população para ajudar nesse jogo?

Como desmontar as falácias e inverdades?

Excelência na comunicação.

Excelência significa criar histórias simples, argumentos inteligíveis e corajosos. Significa identificar audiências diversas – com diferentes interesses e perfis socioeconômicos –, adaptando a comunicação para cada uma delas. Significa mapear objeções amplamente conhecidas e antecipar seu tratamento. Significa usar recursos visuais que permitam que pessoas simples entendam a magnitude do problema e das injustiças. Significa criar mensagens com lógica, mas que atinjam ao mesmo tempo o coração e a emoção dos brasileiros. Por fim, do ponto de vista estratégico, excelência na comunicação significa ter um plano pronto já no momento do anúncio. Tudo isso usando tecnologia e redes sociais para que as mensagens tenham alcance e velocidade.

Só com o apoio – e pressão - da população poderemos ter nossos deputados e senadores atuando para o Brasil.

Tomadores de decisão, e você é provavelmente um deles, já convencidos da importância das grandes reformas, podem também fazer a sua parte nesse esforço de comunicação. Explicar seus argumentos, se posicionar e fazer a sua mensagem chegar a mais gente. Por que não encararmos esses momentos como tão decisivos quanto momentos eleitorais? Convido você, que está lendo este texto, a fazer esse exercício de cidadania.

Se quiser, compartilhe nos comentários o seu ponto de vista. Quem sabe inspiramos o pessoal de Brasília. 

To view or add a comment, sign in

Explore topics