Como cruzar a ponte pênsil da transformação digital

Como cruzar a ponte pênsil da transformação digital

Há uma semana, publiquei um artigo falando sobre a difícil experiência de viver durante uma transição de eras. A instabilidade e a falta de respostas são angustiantes. Não sabemos exatamente como será essa nova sociedade que está se formando, apesar de sabermos que ela está logo ali na frente.

Agora, quero falar sobre o que está por trás dessas mudanças. As novas tecnologias, claro, estão na base da transformação. Mas, sozinhas, não explicam o que está acontecendo. Na verdade, é o modo como são aplicadas que faz a diferença. Produtos e serviços que colocam as inovações na nossa rotina conseguem – e aí está a grande sacada – modificar nossos hábitos. Criam novas necessidades e atualizam nosso jeito de interagir, trabalhar, transportar, morar e comprar.

A dificuldade hoje está em prever quais novos hábitos, apoiados pelas novas tecnologias, vão invadir o nosso dia a dia. Os moradores da cidade de São Paulo, por exemplo, dificilmente adivinhariam um ano atrás que a ciclofaixa da Faria Lima se tornaria uma via frequentada por patinetes e veículos elétricos que não sabemos nem identificar.

A variável-chave aqui é adoção. Assim como milhares de músicas são lançadas a cada ano e apenas uma se torna o hit do Carnaval, entre todas as invenções feitas no mundo, só algumas ganham escala.

Poucos são os serviços que estão conquistando as pessoas, mas um só deles, adotado em massa, muda comportamentos em nível global, e gera como efeito cascata a criação de outros que surfam nos novos hábitos.

Quando isso acontece, o resultado é um movimento exponencial, uma curva de crescimento tão acelerada que fica difícil acompanhar, seja como usuário, seja como empresa. A exponencialidade tem três componentes. O primeiro é o número de pessoas que estão aderindo, ou seja, o percentual da população transformada em usuário. O segundo é a velocidade de adoção – se esse percentual está aumentando rapidamente. O terceiro é a retroalimentação.

Funciona assim: quando essa primeira mudança estimula o surgimento de outros negócios e hábitos girando em torno dela, a tendência se espalha. Foi assim que o Airbnb se tornou, em menos de dez anos, uma empresa mais valiosa e com mais quartos disponíveis do que a rede Marriott, gigante do setor hoteleiro.

É a exponencialidade de um Airbnb somada a tantas outras que está nos levando em direção a uma era completamente diferente.

O problema da mudança exponencial é que a mente humana não tem capacidade para projetar o futuro nessa velocidade.

Somos muito bons, na melhor das hipóteses, em analisar fenômenos lineares. Mas fazer previsões em um cenário exponencial é o equivalente a acertar um tiro numa mosca, com os olhos vendados. Como escutei de um amigo, qualquer erro mínimo de projeção em um modelo exponencial pode significar uma diferença de bilhões de dólares ou dezenas de anos.

O impacto dessa velocidade na gestão das empresas é gigantesco. Os negócios terão de se preparar de um jeito completamente diferente, porque não serão capazes de estar atualizados em relação a todas as tecnologias, adquiri-las e desenvolvê-las. Acredito que a mentalidade a partir de agora terá de ser projetar os novos hábitos dos clientes.

Para quem está angustiado, com razão, em como tocar seu negócio diante da nova era, há dois caminhos: promover a mudança de hábitos ou adaptar-se a ela. A primeira opção é ousada, porque envolve uma disputa entre gigantes com (provavelmente) muito mais poder de fogo do que a sua empresa. Para me explicar, empresto a teoria de Geoffrey Moore, autor do clássico Crossing the Chasm. Segundo ele, o “chasm” é um período de abismo entre o lançamento de um produto e a adoção em massa. Ninguém sabe quanto tempo ele dura nem quanto dinheiro será necessário para sobreviver – e pode ser que, no fim do esforço, aquilo que foi criado nem seja adotado.  E quem consegue bancar este período nos dias de hoje?  Google, Apple, Amazon, Facebook e Microsoft, hoje muito mais aptas a lançar novidades e sobreviver ao chasm. São maiores, têm mais informações, mais dinheiro e velocidade de entrada. Há preocupação que, por estas condições, formem um oligopólio de quem pode realmente inovar em escala.

O segundo caminho é estar com as antenas ligadas e surfar a onda criada pela disrupção. O que seu negócio pode oferecer no contexto desses novos hábitos? Seus produtos precisam ser atualizados para a nova era, ou você precisa criar produtos completamente novos? Os produtos novos são da mesma categoria dos anteriores, ou você vai focar no mesmo público, e mudar de ramo? Você vai manter o mesmo modelo de negócio?  

Para isso, é preciso estar atento às tendências e se manter atualizado. Apenas esta atividade – manter-se atualizado – pode consumir 3 ou 4 horas de seu dia, todo dia. É o preço de se ter alguma chance neste novo mundo. Fazer testes e aprender a errar de modo pequeno e rápido é o próximo componente. Por fim, esteja sempre aberto a adaptar sua ideia. Os melhores produtos não foram concebidos do jeito que existem, mas partiram de um protótipo que “não deu muito certo”.

Sua empresa passou recentemente por alguma transformação para atender aos novos hábitos? Tem algum insight do mundo exponencial? Compartilhe nos comentários!

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Rogerio Chequer é sócio e presidente da SOAP – Apresentações Profissionais -, pioneira no mercado de apresentações de alto impacto e responsável por ajudar as pessoas e empresas em seus momentos decisivos. Trabalhou por quase 20 anos no mercado financeiro e fundou o movimento cívico Vem Pra Rua.

Flavio Hirata

Diretor Estratégia de Marca na FOCCUS BRASIL

4y

Rogerio, desculpe, mas gostaria mesmo de ve-lo Vereador, prefeito e Governador. Espero ve -lo na Paulista dia 30. Com muito soap (sorry, não resisti...) , agua esfregões e rodos limparemos a casa. Para então, redecorar com verde, amarelo e muito trabalho. Abraço 

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